Seletividade alimentar: saiba, até onde este pode ser um problema
Falta de apetite e desinteresse alimentar. Se o seu filho tem algum desses sintomas, ele pode sofrer de seletividade alimentar
Os problemas de alimentação na população infantil geram uma grande preocupação para os pais, uma delas é a seletividade alimentar.
Uma dieta nutricionalmente inadequada, problemas de comportamentos associados às refeições são estresse para pais, familiares e cuidadores.
O que é a dificuldade alimentar? É todo problema que afeta negativamente o processo dos pais ou cuidadores de suprirem alimento e nutrientes à criança.
Benny Kerzner sugere 7 perfis para as crianças com as dificuldades alimentares. A ingestão altamente seletiva é um deles, e pode ser a poucos alimentos ou mais extensa, quando a criança rejeita grupos inteiros, como frutas, carnes, vegetais e lácteos.
Poucos profissionais e pais compreendem, entendem e respeitam os sinais da criança com seletividade alimentar.
Todos os sinais são formas de comunicação, então o que será que a criança quer dizer quando chora, joga o corpo para trás, empurra a colher e tem náusea?
Ela pode estar querendo dizer que dói ao comer, que sente desconforto com o alimento, entre outras coisas.
Afinal de contas, o que é seletividade alimentar?
A seletividade alimentar é caracterizada por restrições alimentares, falta de apetite e desinteresse pelo alimento.
Por vezes a criança aceita apenas uma textura de alimento (pastosos, crocantes ou secos), determinadas cores (alimentos amarelos, brancos, vermelhos), ou recusa alimentos com cheiro marcante ou muito temperados; também se recusa a experimentar novos alimentos, podendo apresentar náusea e vômito ao tentar alimentar-se, apresentando uma alteração de sensibilidade.
Algumas crianças apresentam os problemas desde bebês, quando ainda são amamentados.
Outros, no período de transição para os demais alimentos (em torno de 6 meses de vida) ou ainda quando estão maiores, depois de 2 anos de idade.
Podem ser decorrentes de uma série de razões, por eventos fisiológicos, ambientais ou interação entre os dois fatores.
Um exemplo disto são as crianças que ficam hospitalizadas, com sondas quando nascem, as crianças com refluxo gastroesofágico, as com alergias alimentares, entre outras causas.
Uma criança com refluxo gastroesofágico, por exemplo, pode associar a sensação de dor ou vômito quando come com a ingestão de alimentos, desenvolvendo aversão aos alimentos ou até mesmo quando vê um talher ou prato.
Essa situação gera uma angústia na família pela quantidade limitada de alimentos que a criança aceita, levando a uma dieta bem restritiva e muitas vezes pobre de vitaminas e nutrientes.
Quais são as causas da seletividade alimentar?
Os cientistas apontam que há componentes biológicos e psicológicos na etiologia desse transtorno.
Alguns estudos levantam que essas pessoas poderiam ter um paladar muito aguçado, o que provoca essa rejeição a sabores mais fortes; por outro lado, outros estudos mostram que a rejeição a determinados alimentos se dá muito mais por outras vias sensoriais e não pelo gosto, por exemplo, não gostar do cheiro ou da aparência de um alimento.
Em relação ao aspecto psicológico, alguns indivíduos podem associar emoções negativas à alguns alimentos, por exemplo, um mal-estar físico causado pela comida, como engasgos ou problemas gastrintestinais.
As razões desse comportamento são bastante complexas, devido às interações de características familiares e de contextos sociais.
Estudo recente sobre o aspecto psicológico da queixa materna “meu filho não come” revela que é impossível apontar por onde começam as dificuldades em termos causais: se nos sentimentos da mãe ou no comportamento da criança.
A seletividade alimentar e o autismo
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Massachussets, definiu o grau de seletividade alimentar e comparou estes índices entre crianças com autismo e crianças com desenvolvimento típico de acordo com 3 domínios:
- Recusa alimentar;
- Repertório alimentar limitado; e
- Ingestão alimentar única de alta frequência.
Esta pesquisa constatou que as crianças portadoras de autismo apresentaram mais seletividade alimentar que as crianças com desenvolvimento típico (41,7% vs. 18,9% dos alimentos oferecidos).
Além disso, exibiram um repertório alimentar mais limitado do que as crianças com desenvolvimento típico (19,0% vs. 22,5% alimentos apresentados). Já a recusa alimentar foi observada nos 2 grupos.
Alguns fatores podem contribuir para a seletividade alimentar, um deles está relacionado à sensibilidade sensorial — também chamada de defensiva sensorial ou super responsividade sensorial, é a reação exagerada a certas experiências de toque, muitas vezes resultando em uma aversão ou uma resposta comportamental negativa.
A alimentação pode ser negativamente afetada pela sensibilidade sensorial a texturas, gostos, cheiros e temperaturas dos alimentos. especialmente em crianças com autismo.
Fato que pode ser comprovado em uma pesquisa onde pais de crianças com autismo relataram que 67% tinham seletividade alimentar, sendo a textura dos alimentos (69%) o fator de maior relevância nessa seletividade, seguido da aparência (58%), sabor (45%), cheiro (36%) e temperatura (22%).
Mas, o maior problema identificado pelos pais, relativos a comportamentos alimentares e orais, foi a relutância em experimentar novos alimentos (69%).
Com isso, podemos tentar entender as dificuldades na alimentação para pessoas com autismo, por suas sensações.
Outros fatores podem estar associados como:
- Atrasos das habilidades motoras orais resultando em aumento de esforço para mastigação;
- Os padrões de comportamento restritos, repetitivos ou estereotipados, que levam a uma insistência na mesmice e recusa a flexibilidade;
- Problemas gastrointestinais, que podem relacionar desconforto à alimentação ou intolerância ou alergia, que também podem interferir.
Mesmo com essas dificuldades, que podem ser gradativamente superadas através de tratamentos possíveis com profissionais especializados, como terapeuta ocupacional (integração sensorial), fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga, o estímulo da família em casa é fundamental.
Como funciona o tratamento da seletividade alimentar?
O tratamento em conjunto da fonoaudiologia e a terapia ocupacional consiste em oferecer os estímulos táteis com os próprios alimentos para que a criança entre em contato com aquela textura e aceite experimentar.
Então a primeira coisa que fazemos: explorar esse alimento com as mãos. O lugar do nosso corpo onde temos a maior quantidade de receptores táteis é a boca.
Então oferecer esses alimentos não tão desejados diretamente na boca ou forçar a criança a experimentar gera grande angústia, podendo ocasionar piora no quadro de seletividade.
Então começamos pelas mãos que também apresentam grande quantidade de receptores táteis e maior aceitação dessas texturas novas.
E junto à exploração oferecemos também o estímulo vestibular, nossos balanços, que auxiliam nosso cérebro a interpretar esses estímulos de uma maneira mais amena.
O uso combinado de estímulos sensoriais, ajudam o cérebro a integrar melhor as informações gerando uma resposta adequada, favorecendo a aceitação do alimento, neste caso.
Seletividade alimentar não precisa ser um bicho de 7 cabeças na sua família
Cuidar e tratar a seletividade alimentar de crianças é prevenir problemas mais sérios no futuro.
É se dedicar a ter uma criança saudável para construir um futuro adulto e idoso com mais saúde, desempenho e qualidade de vida.
É importante a participação ativa dos pais e cuidadores na identificação dos sinais e sintomas da seletividade alimentar.
O tratamento nutricional precoce evita as consequências de carências nutricionais e possibilita o crescimento e o desenvolvimento adequado, garantindo, assim, melhor prognóstico.
Tenha paciência e não desista de oferecer o alimento a criança, ofereça de diversas formas, com receitas diferentes.
Dê oportunidade para essa criança se familiarizar com o alimento, são necessárias pelo menos 20 exposições com o alimento para se dizer que a criança não gosta.
Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre seletividade alimentar, já sabe que esse distúrbio tem tratamento e já sabe como você pode obter ajuda.